terça-feira, 24 de novembro de 2009

Juiz Federal Defende chá Santo Daime




Jair Facundes fala sobre ayahuasca e defende liberdade religiosa.Extraído de: Tribunal Regional Eleitoral do Acre.

O Juiz Federal Jair Facundes se reuniu na manhã desta sexta-feira (18) com servidores da justiça eleitoral para falar sobre um dos temas que mais o fascinam na história social do Acre: a doutrina do Santo Daime. Denominada Ayahuasca e Multiculturalismo - o Reconhecimento do Outro, a palestra de Jair Facundes faz parte do projeto TRE Cultural, idealizado pelo Desembargador Arquilau de Castro Melo com o objetivo de promover debates e encontros entre os servidores do Tribunal. Figuras importantes da cultura acreana já passaram pelo projeto, entre elas o sertanista José Meirelles, o paleontólogo Alceu Ranzi e o escritor e jornalista Marcos Afonso.

Jair Facundes iniciou sua palestra destacando a origem e o conceito da Ayahuasca. O magistrado falou sobre o uso ritual do chá, seu papel no fortalecimento da identidade cultural local e a relação do Daime com as outras tradições religiosas, como o cristianismo e o judaismo. Facundes ressaltou o papel dessa "religião da Amazonia" num mundo cada vez mais marcado pelo multiculturalismo. "Essa é a religião de quem foi colonizado pela civilização branca e cristã, mas se recusou a ter a religião do colonizador. O Daime é uma manifestação religiosa genuinamente nativa. Quem vive aqui tem o direito de não concordar e não gostar, mas precisa respeitar e conhecer melhor essa realidade".

O juiz defendeu o uso da Ayahuasca em absoluta conexão com o sagrado, a fé e o sentimento. Para Jair Facundes, a ingestão da bebida deve estar sempre associada ao sentido de religião, de agregação social e desenvolvimento humano. "As pessoas se reúnem numa atmosfera de paz e alegria. É assim que eu vivo a minha experiência na Ayahuasca", explicou.

Sobre a polêmica em torno da utilização de substâncias psicoativas em rituais religiosos, o magistrado disse que uma série de decisões judiciais já foram tomadas para protejer esse direito. Segundo ele, a convenção de Viena, de 1971, da ONU, já estabelecia a exclusão de ilicitude as substâncias usadas de modo ritual . No Brasil, o Conselho Federal de entorpecentes permitiu o uso ritual da ayahuasca. Também o Conselho Nacional Antidrogas permitiu o uso religioso da ayahuasca. "Isso nada mais é do que o direito à pluralidade, à diferença e à liberdade de credo", argumentou, ao afirmar que o Estado não deve interferir na escolha íntima de cada um.

Facundes também mostrou preocupação com o que ele chamou de "subdivisões" do Santo Daime. De acordo com o juiz, isso pode causar deformações no conceito original da doutrina.

"Ao retirar da ayahuasca o seu conteúdo imaterial, espiritual, tem-se mera substância e mercadoria, sujeita à venda ou troca. O grande desafio que temos será a preservação de sua condição de sagrado diante da mercantilização religiosa", defendeu.

O juiz falou ainda sobre a vida do fundador da doutrina, Mestre Raimundo Irineu Serra. Boa parte do conhecimento que se tem sobre a origem do Santo Daime e a vida de mestre Irineu foi passado por meio da tradição oral pelos mais antigos seguidores de sua doutrina, e também por pessoas que tiveram contato com o religioso. Segundo Jair, foi preciso entrevistar muita gente para fazer um retrato do ilustre personagem. "Era um homem iluminado, diferente. Veio para a cidade de Rio Branco, onde começou a trabalhar com um pequeno círculo de discípulos. Instalou definitivamente sua família e um grupo de seguidores na localidade denominada Alto Santo, onde trabalhou até 1971, quando faleceu".

Por fim, Jair Facundes agradeceu a oportunidade de conversar sobre o assunto com os servidores do TRE e se colocou a disposição para outros encontros. "Tentei fazer aqui um breve apanhado sobre o Santo Daime, num contexto social e político. A tolerância e o reconhecimento do outro são fundamentais para o crescimento humano", concluiu.

Fonte: Ascom/TRE

Um comentário:

Amandha Souza. disse...

Olá querido, tenho esse hino em meu computador, que quiseres te passo, mas só posso a noite.
Tbm sou daimista, aqui em Manaus.
Namastê.