quarta-feira, 8 de outubro de 2008


SHIRLEIDE VASCONCELOS


Profissionais liberais e acadêmicos participaram ontem da palestra no auditório da Faculdades Cathederal sobre a Globalização da Ayahuasca – chá mais conhecido pelo uso na religião daimista (Santo Daime) ou na União do Vegetal.


Os palestrantes falaram sobre a história do chá, sua composição e apresentaram estudos de universidades da Alemanha e da Filadélfia, que garantem que o produto é inofensivo à saúde humana.


Conforme um dos palestrantes, o coordenador de Relações Institucionais da União do Vegetal e membro do Grupo Multidisciplinar de assuntos relacionados ao chá no Conad (Conselho Nacional Antidrogas), Edson Lodi, o chá foi liberado há 18 anos para uso de ritual religioso e o Conad mantém esta liberação.


Disse que é compreensível que haja preconceito por conta do chá. “As pessoas não conhecem, por isso estamos abordando os aspectos botânicos, fitoquímicos, toxicológicos, farmacocinéticos e clínicos”, disse.
A ayahuasca é o resultado do cozimento de duas plantas: mariri e charona, nativas da região amazônica. Em áreas afastadas da Amazônia, os núcleos da União do Vegetal têm o próprio plantio, sem nenhuma restrição, segundo Lodi.


De acordo com ele, em todo o país são 140 núcleos, sendo três em Roraima (dois na Capital e um em Rorainópolis). Na palestra, Lodi falou da história do chá, que no Brasil tem três vertentes: uma na década de 20, por Raimundo Ireneu, que criou o Alto Santo; outra na década de 40, com Daniel Pereira Matos, que criou outra sociedade religiosa, a Barquinha; e a terceira, na década de 60, com José Gabriel Costa, um seringueiro que criou a União do Vegetal.


As religiões que utilizam o chá como sacramento são denominadas de huasqueiro e daimista. Segundo Lodi, o chá não é alucinógeno e quem bebe o líquido fica consciente. Em alguns casos, conforme admitiu, a bebida pode causar vômitos. “Mas isso ocorre por dois motivos: a pessoa não ter digerido bem algum alimento ou limpeza espiritual”, afirmou.
Na definição de Lodi, quem toma o chá fica como se “sonhasse acordado”, tem a percepção dos sentidos aguçada e a consciência ampliada. “O chá facilita a concentração mental. Nada comprova que ele provoca prejuízo à saúde. Na minha família, a terceira geração já toma o chá”, enfatizou.
Na religião adepta do chá ayahuasca, as crianças também ingerem a bebida. Segundo Edson Lodi, isso ocorre quatro vezes por ano em datas festivas, mas a quantidade do líquido, depende da idade da criança.


EXPERIÊNCIA - Edson Lodi, 57 anos, toma o chá ayahuasca há 33 anos. Disse que parou de usar drogas e ingerir bebida alcoólica depois que começou a freqüentar a União do Vegetal, religião que tem 15 mil filiados entre o Brasil, Estados Unidos, Espanha e Portugal.


De acordo com ele, o chá aumenta a produção de uma substância chamada celatonina, responsável pelo humor do ser humano.
O clínico geral José Nunes Rocha disse que o chá ayahuasca tem efeito alucinógeno. Segundo ele, a bebida causa visões e não tem benefícios para a saúde.


Quem já freqüentou a União do Vegetal, A.C., 47 anos, conta que foi a convite numa das reuniões da religião e na primeira vez a reação ao tomar o chá foi de mal-estar, com vômitos, inclusive.


Sabendo das reações, das vezes seguintes resolveu se alimentar com comidas mais leves antes de ir às reuniões, que aconteciam uma vez por mês. Disse que não seguiu na prática religiosa porque já tinha seus conceitos formados e preferiu permanecer na antiga religião.A.C. garante que não perdeu a consciência quando ingeriu o chá, mas admitiu que a bebida teve o mesmo efeito de um vinho, causando algumas reações, inclusive sonolência e relaxamento.

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